quinta-feira, 16 de julho de 2015

floresta mergulhada





a floresta está mergulhada no seu próprio verde
intensa e calma como a maré do tempo
por dentro da terra selvagem que respira brota a suprema
delicadeza da flor humana e sopram raros teus segredos que circulam
em redor dos meus caules inquietos, rodas os punhos, as braceletes tilintam
parcas gramas de ouro junto às areias do meu corpo estendido 
onde luminosa me dorme a pedra de quartzo vibra no seio
da sua rosa sonhando com desertos que nunca acabam
muito além dos labirintos desenhados nas paredes da alma
trago vestido o meu traje de luzes mas tenho praticado o oculto
atrás da tábua pintada protego o peito da arena, sinto a fúria
das narinas ao vapor mas descanso porque os animais não podem ver-me
na verdade sou um secreto poema azul e verde não tenho é a coragem
de mostrar essa nudez intrínseca de longo emigrante saudoso
das suas aortas desbotadas; planto na terra o aroma dos teus caules
ainda verdes guardados em mãos fechadas por sussurros
e peço desculpa pelo recato, pela retracção pulmonar
em frente aos arroubos diurnos do quotidiano
oiço as montanhas que gritam a ignomínia da minha grandeza
a minha grandeza a germinar por entre as frestas rochosas da terra
minúsculas gotas que hidratam a lava, o lastro e o leite da humildade
colectiva derramando a massa humana espalmada em cada grama
em cada pedra em cada erva confusa pelo eco, o eco que pergunta
às entranhas se não conhecem os segredos celestes
como nós conhecemos as nossas palmas ainda imberbes
as nossas faces de meninos à espera do colo das mães
penduradas no embalo do espanto enquanto   
a floresta continua mergulhada no seu próprio verde
intensa e calma como a maré do tempo e por dentro da terra
selvagem que respira brota a suprema delicadeza da flor humana