a floresta está
mergulhada no seu próprio verde
intensa e calma como
a maré do tempo
por dentro da terra selvagem
que respira brota a suprema
delicadeza da flor
humana e sopram raros teus segredos que circulam
em redor dos meus
caules inquietos, rodas os punhos, as braceletes tilintam
parcas gramas de ouro
junto às areias do meu corpo estendido
onde luminosa me dorme
a pedra de quartzo vibra no seio
da sua rosa sonhando
com desertos que nunca acabam
muito além dos labirintos
desenhados nas paredes da alma
trago vestido o meu
traje de luzes mas tenho praticado o oculto
atrás da tábua
pintada protego o peito da arena, sinto a fúria
das narinas ao vapor
mas descanso porque os animais não podem ver-me
na verdade sou um
secreto poema azul e verde não tenho é a coragem
de mostrar essa nudez
intrínseca de longo emigrante saudoso
das suas aortas
desbotadas; planto na terra o aroma dos teus caules
ainda verdes
guardados em mãos fechadas por sussurros
e peço desculpa pelo
recato, pela retracção pulmonar
em frente aos
arroubos diurnos do quotidiano
oiço as montanhas que
gritam a ignomínia da minha grandeza
a minha grandeza a
germinar por entre as frestas rochosas da terra
minúsculas gotas que
hidratam a lava, o lastro e o leite da humildade
colectiva derramando a
massa humana espalmada em cada grama
em cada pedra em cada
erva confusa pelo eco, o eco que pergunta
às entranhas se não
conhecem os segredos celestes
como nós conhecemos as
nossas palmas ainda imberbes
as nossas faces de
meninos à espera do colo das mães
penduradas no embalo
do espanto enquanto
a floresta continua
mergulhada no seu próprio verde
intensa e calma como
a maré do tempo e por dentro da terra
selvagem que respira brota
a suprema delicadeza da flor humana