o pão emerge da massa humana
os meus pés pisam o chão e deixam pegadas brancas
o meu tronco é fogo posto num campo de trigo
a minha carne é feita de farinha
a minha fome é um candeeiro antigo
que acende uma evidência cor-de-rosa:
eu, sou eu próprio
é espantoso
um circuito com muitos fios por onde o amor
espalha os seus fluidos
tuneis transparentes
pequenos impulsos eléctricos carregados de ternura
mesmo assim estou só
no meio do grande armazém de pão do mundo
sou apenas uma dentada
que desperta de manhã
com o cheiro das torradas hum
quantos sorrisos desperdicei
quantas oportunidades para dizer: olha, eu amo-te
pequenas coisas
encobertas pelo pó da padaria
quando tenho a cara branca é mais fácil
ninguém reparar em mim, sou eu próprio
o meu alimento
partilhado na massa do mundo
milhares de seres esperam agora
pelo meu sorriso
mas estou esquecido
espera
lembrei-me
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