podiam ser dois autocolantes duas dores emblema
colocadas logo abaixo dos ombros por cima de cada omoplata
como um cabide pendurado no meu próprio armário
estou a ficar vazio das minhas roupas
e não é o buraco de uma traça que me trespassa
que se passa ? são crostas
ou sílabas antigas que sinto soltas sobre as costas ?
alongo o braço espalmo a mão mas não chego lá
com os dedos e também não sinto comichão
descolam-se várias camadas de pronomes pessoais
separam-se da amálgama do mim próprio vigente
durante reinados sem fim e sem mágoa
retiro uma pétala de malmequer
bem me quer muito pouco nada
e julgo ouvir a flor
a verter um choro leve: será uma margarida ou uma frésia ?
a língua e os lábios atrevem-se e abrem o bico e eu digo
em modo corajoso assustadiço : eu sou eu que não sou eu
o eco responde para que serve um eu
uma cabeça que pensa eu uma boca que diz eu
se o corpo estiver maciço
em frente ao vácuo
? vestido de falésia
no meu peito
uma auto-estrada descarnada
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