quarta-feira, 21 de outubro de 2009

AUTOCOLANTES






podiam ser dois autocolantes duas dores emblema

colocadas logo abaixo dos ombros por cima de cada omoplata

como um cabide pendurado no meu próprio armário

estou a ficar vazio das minhas roupas


e não é o buraco de uma traça que me trespassa

que se passa ? são crostas

ou sílabas antigas que sinto soltas sobre as costas ?

alongo o braço espalmo a mão mas não chego lá

com os dedos e também não sinto comichão

descolam-se várias camadas de pronomes pessoais

separam-se da amálgama do mim próprio vigente

durante reinados sem fim e sem mágoa


retiro uma pétala de malmequer

bem me quer muito pouco nada

e julgo ouvir a flor

a verter um choro leve: será uma margarida ou uma frésia ?


a língua e os lábios atrevem-se e abrem o bico e eu digo

em modo corajoso assustadiço : eu sou eu que não sou eu


o eco responde para que serve um eu

uma cabeça que pensa eu uma boca que diz eu

se o corpo estiver maciço


em frente ao vácuo



? vestido de falésia





no meu peito

uma auto-estrada descarnada




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