o meu pai vulnerável
paralelo
à linha que entristece o horizonte
abre a boca cheia de palavras que não entendo
as legendas vêm numa língua estranha ôcre não sei
se os bivalves sobrevivem no deserto
o coração abraça o coração
sem mover um único músculo
um tigre nas gavetas da cabeça
fecha a razão e abre
a humildade
microscópicos serenos cristais de humidade
medram na mais banal das humildades
espreitando por entre as dunas
uma rosa de humildade concreta
amacia-me as pontas das unhas
a tempestade germina os ventos e as areias
um tigre morre um tigre nasce
à luz do mesmo golpe
o mesmo sabre
o meu filho sou eu
a olhar
o meu pai vulnerável
debita palavras molusco que desmancham
as costuras da razão
derretem chuvas abrem sulcos afluentes
sempre que há novos rios há novos cursos rasgados
no lençol que cobre a carne tenra
a vida a tremer no coração
Sem comentários:
Enviar um comentário