tenho as entranhas a sair-me
pelos poros e contraio-me
como um cavalo quando se empina
relincho em silêncio
não entendo esta dose equina
é alegria ou dor ? a escoar vontades antigas
pelos novos canais que abrem surpresas
caudais imensos , rios inteiros
vivos
que sobreviveram às barragens
tenho muitas no curriculum
o eu-castor labora muitos ramos de neurónios
ao mesmo tempo faz coisas paralelas
constrói barragens num corpo secreto
dentro do corpo
testemunho a obra do construtor espião espanto respiro
as minhas estruturas implodem sem dramatismos
e como a flor que irrompe no alcatrão
aí estou eu, quero dizer
um botão de mim próprio
é tudo novo
que estranho lindo
fico muito desajeitado
com aquela elegância grotesca
dos potros recém-nascidos
querem logo pôr-se nas patas
a fragilidade toca sempre nas raias da elegância
e entra
no tenro coração da beleza
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