segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

fita magnética












uma fita magnética a registar a tristeza

na pista interior da memória

na outra pista

uma imagem dos meus pés a salpicar

as gotas na margem do rio


e chega o mar


as sensações atravessam-me de um lado ao outro inundando

tudo o que sou enquanto me lembro

várias fitas magnéticas entrelaçam-se internas à cabeça

penetram na almofada à medida que registam

a minha vida misturada em várias pistas paralelas


as memórias são fitas magnéticas

são janelas viradas para o mar


e os pés continuam as pistas

o mar continua o rio

as cabeças continuam as almofadas


e o mar nunca deixa de chegar

nunca deixa de ser mar


e enquanto o mar atravessa o armário

todos os órgãos arrumados do meu corpo

lentamente devolvem a cabeça

aos tempos em que as memórias

não estavam ao contrário


aí nesse lugar onde finalmente

o mar continua a chegar

fundindo as costas do choro

nas costuras da alegria

aí nesse lugar podemos

finalmente todos um dia