uma fita magnética a registar a tristeza
na pista interior da memória
na outra pista
uma imagem dos meus pés a salpicar
as gotas na margem do rio
e chega o mar
as sensações atravessam-me de um lado ao outro inundando
tudo o que sou enquanto me lembro
várias fitas magnéticas entrelaçam-se internas à cabeça
penetram na almofada à medida que registam
a minha vida misturada em várias pistas paralelas
as memórias são fitas magnéticas
são janelas viradas para o mar
e os pés continuam as pistas
o mar continua o rio
as cabeças continuam as almofadas
e o mar nunca deixa de chegar
nunca deixa de ser mar
e enquanto o mar atravessa o armário
todos os órgãos arrumados do meu corpo
lentamente devolvem a cabeça
aos tempos em que as memórias
não estavam ao contrário
aí nesse lugar onde finalmente
o mar continua a chegar
fundindo as costas do choro
nas costuras da alegria
aí nesse lugar podemos
finalmente todos um dia