hoje a noite trazia um rio de laivo triste
escondido nos últimos minutos
sou peixe de pouca escama procuro refúgios onde não existem
a não ser nas camadas lá do fundo
onde o silêncio é tão grande
que tolda a vista
não se vê nada é tudo
matéria sensível
o que posso fazer a não ser
contar os movimentos vermelhos das guelras
pedir perdão
rezar à deriva agradecer
cada bolha de oxigénio cada aniversário
cada vez que disseste meu amor
oh meu amor
quando sair deste rio quero abraçar-te com todo
o meu cardume de esperanças
sacudir as águas debaixo de um candeeiro solarengo
sonhar em voz alta que tudo é possível
tudo até um coração dorido deixar-se florir
ao ouvir o ritmo repetido
da ondulação
da luz do plancton
dos teus lábios abrindo
as minhas feridas com doçura