sábado, 8 de maio de 2010

a pantera de rilke




o fotógrafo capta uma imagem em negativo

o fotógrafo entra no quarto escuro

as mãos mergulham nos líquidos

os líquidos trabalham no escuro

a imagem revela-se

o negativo transforma-se em positivo


que palavra sou eu?


em cima, um fluxo de energia circula num reservatório, à espera

em baixo, uma pantera negra roda sobre si

espreitando por entre barras negras


que palavra sou eu?


no intervalo dos negros abre-se uma comporta

e a luz muda de nível

a energia transforma-se em massa, forma

a mão do escritor aparece dentro do coração

negro da pantera:

o olho do fotógrafo

implanta-se na espiral dos dedos


que palavra sou eu?


o olho, a mão e o coração

os níveis fundem-se e a realidade completa-se


a energia flui, a escrita fixa, a alma revela-se e o Ser respira

cumpre-se a si próprio


Eu sou.





1 comentário:

Mercês disse...

Lindo poema! Na busca do eu inteiro de alma, de corpo, de espírito. A mesma procura de Rilke, Pessoa e tantos outros que por aqui no mundo passaram.