terça-feira, 8 de abril de 2014

através do brilho das estrelas







era no tempo em que eu te olhava através do brilho das estrelas
e o big bang acabava de me atravessar as antecâmaras do coração
nesse tempo em que a física das nuvens não tinha chão onde apoiar-se
as tempestades não sabiam sequer como formar-se e tudo ao redor dos olhos
se espalhava nos campos como pólen beijando a boca das abelhas e tudo até a casa
e o vermelho das telhas cheirava as rosas frescas e a bébés muito bem amados
nesse tempo em que de repente o sol quebrou dois ou três raios e nós baixámos
dois ou três  abraços centígrados e o ar ficou tão húmido que podíamos sentir pequenas 
partículas de incertezas alojando bolor nos ventrículos, mudando a cor das pupilas
com que respirávamos agora com mais dificuldade e mais medo e não, não sabíamos
distinguir as subtilezas nem os discursos inflamados dos vários tons da razão, adormecíamos
nas ardilezas do medo a falar pela boca da razão, o medo a dobrar-nos as asas e a coluna lacrimal
nesse tempo em que de repente olhámos para o chão e nos baixámos com inocência animal
e apanhámos e engolimos dois ou três raios de sol quebrados e a luz oh a luz acendeu-nos
e aprendeu-nos a fazer das tripas e do coração um pequeno incêndio
como bocas de abelhas bebendo a glória do pólen
que um dia será sempre o dia em que o tempo deixar de existir
e nesse dia sempre acabado e sempre por vir a nossa história
caberá num esplendor tão pequenino que dará fruto
puro amor maduro a germinar aqui e agora
como flor, coração e memória






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