era no tempo em que
eu te olhava através do brilho das estrelas
e o big bang acabava
de me atravessar as antecâmaras do coração
nesse tempo em que a
física das nuvens não tinha chão onde apoiar-se
as tempestades não sabiam
sequer como formar-se e tudo ao redor dos olhos
se espalhava nos
campos como pólen beijando a boca das abelhas e tudo até a casa
e o vermelho das telhas
cheirava as rosas frescas e a bébés muito bem amados
nesse tempo em que de
repente o sol quebrou dois ou três raios e nós baixámos
dois ou três abraços centígrados e o ar ficou tão húmido
que podíamos sentir pequenas
partículas de incertezas alojando bolor nos
ventrículos, mudando a cor das pupilas
com que respirávamos agora
com mais dificuldade e mais medo e não, não sabíamos
distinguir as
subtilezas nem os discursos inflamados dos vários tons da razão, adormecíamos
nas ardilezas do medo
a falar pela boca da razão, o medo a dobrar-nos as asas e a coluna lacrimal
nesse tempo em que de
repente olhámos para o chão e nos baixámos com inocência animal
e apanhámos e engolimos
dois ou três raios de sol quebrados e a luz oh a luz acendeu-nos
e aprendeu-nos a
fazer das tripas e do coração um pequeno incêndio
como bocas de abelhas
bebendo a glória do pólen
que um dia será
sempre o dia em que o tempo deixar de existir
e nesse dia sempre
acabado e sempre por vir a nossa história
caberá num esplendor
tão pequenino que dará fruto
puro amor maduro a germinar aqui e agora
como flor, coração e
memória
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