domingo, 6 de dezembro de 2009

O SOL












o sol são imensas fadas de fogo

dizem coisas radiantes em cadeia luminosa

os meus ouvidos acendem pequenas peripécias

capazes de distinguir os gestos que fazem dentro do som e da luz

levantam os braços seguram lamparinas

digo: são visões por baixo do escalpe

permitem aceder a verdades puramente sensíveis

a dado momento o fogo intensifica-se

e o dia começa de novo

vulnerável como uma laranja descascada

as fadas dizem em coro, abençoam

planam sobre

as pessoas que dizem mal de si próprias dizem mal dos outros

as pessoas que dizem mal dos outros dizem mal de si próprias

movidas pela lei geral da capilaridade humana

os vasos comunicam as flores que cultivam

o jardim

é sempre o mesmo

jardineiro

as mesmas mãos de fogo o mesmo coração de fogo

o mesmo sopro de fogo a ligar as águas do mundo

por dentro do núcleo vivo da Terra: aleluia

as águas rebentam

pelo fogo meus irmãos

as fadas celebram

o nosso parto colectivo

a partir de agora somos povo

o mesmo povo de sempre coroado

pelo tempo novo



as pedras do deserto purificam os pés incandescentes

cantemos com alegria rasgada selvagem

meus irmãos e com candura

as nossas almas reclamam a nossa voz

mais pura






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