sábado, 5 de dezembro de 2009

padaria do povo















o pão emerge da massa humana

os meus pés pisam o chão e deixam pegadas brancas

o meu tronco é fogo posto num campo de trigo

a minha carne é feita de farinha

a minha fome é um candeeiro antigo

que acende uma evidência cor-de-rosa:

eu, sou eu próprio

é espantoso


um circuito com muitos fios por onde o amor

espalha os seus fluidos

tuneis transparentes

pequenos impulsos eléctricos carregados de ternura


mesmo assim estou só

no meio do grande armazém de pão do mundo

sou apenas uma dentada

que desperta de manhã

com o cheiro das torradas hum


quantos sorrisos desperdicei

quantas oportunidades para dizer: olha, eu amo-te

pequenas coisas

encobertas pelo pó da padaria


quando tenho a cara branca é mais fácil

ninguém reparar em mim, sou eu próprio

o meu alimento

partilhado na massa do mundo

milhares de seres esperam agora

pelo meu sorriso

mas estou esquecido


espera

lembrei-me





Sem comentários: