um gigante com dinheiro gravata
e
fama passeava numa rua
de
alfama quando reparou na lata
que
a mão da pedinte segurava enquanto a boca cantarolava
“oh
minha filha só é pobre quem não ama e não partilha”
não
era frase que fosse importante e o gigante assim de raspão
lembrou-se
do seu jardim e do cão e da piscina (nunca ia para fora de pé)
enquanto
a pedinte de alfama dava a mama ao bebé
o
dia começou a cair o gigante sem
perceber
começou
a entristecer e mesmo antes de anoitecer
ouviu-a
dizer à comadre com todo o respeito:
“olha
filha, não é preciso ter estudos nem ser padre para saber...
quantas
horas de peito nos fizeram crescer”
o
gigante olha para o colo da mulher e para a criança
e para o recheio do bolso e pestaneja
aconchega-se
ao degrau da igreja e descansa
suspira
respira tira
a
memória do miolo da cabeça
pousa-a no chão à espera que algo aconteça
e
começa a pescar tudo o que vem à linha tem importância
olha
de cima para baixo e repara que quase não tem infância
“há
pessoas que a têm má outras que a têm boa
não
sei se tem importância mas
eu
quase não tenho infância
pesco
na montanha pesco na lagoa
insisto
lanço o fio chamo por ela...
e
o isco esbarra sempre
no
vidro da janela”
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