quinta-feira, 15 de outubro de 2009

PAI









o meu pai vulnerável

paralelo

à linha que entristece o horizonte

abre a boca cheia de palavras que não entendo

as legendas vêm numa língua estranha ôcre não sei

se os bivalves sobrevivem no deserto

o coração abraça o coração

sem mover um único músculo

um tigre nas gavetas da cabeça

fecha a razão e abre

a humildade


microscópicos serenos cristais de humidade

medram na mais banal das humildades

espreitando por entre as dunas

uma rosa de humildade concreta

amacia-me as pontas das unhas

a tempestade germina os ventos e as areias

um tigre morre um tigre nasce

à luz do mesmo golpe

o mesmo sabre


o meu filho sou eu

a olhar

o meu pai vulnerável

debita palavras molusco que desmancham

as costuras da razão

derretem chuvas abrem sulcos afluentes

sempre que há novos rios há novos cursos rasgados

no lençol que cobre a carne tenra


a vida a tremer no coração




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