sexta-feira, 16 de outubro de 2009

uma gota





todas as cadeias do mundo barras de metal

quadriculados corredores da morte cantinas cerradas

quilómetros de ordens de prisão secretárias guardas

sheriffs detectives não chegam para ilustrar

os páteos de pura ilusão

de liberdade


onde inconscientemente convivem

em modernos apartamentos conceptuais

as minhas moléculas de ADN


é por isso talvez por isso descobri agora

que as minhas cascatas se derramam ao mínimo toque

uma notícia mais lamecha um rapaz a passear o pai idoso

um homem a discutir absolutamente convencido da utilidade da sua razão

coisas supostamente más supostamente boas supostamente além

de qualquer juízo possível


nada faz sentido a não ser a grandeza de O Amor

a matemática a química a electricidade a magnética de O Amor


e basta uma gota um vestígio de gota

que se assome ao miradouro do meu crâneo

para toda a matéria corporal implodir as suas barragens

as mesmas que supostamente produzem energia


oscilo como uma pulga apaixono-me deprimo-me

canto como uma criança desafinada choro todo o meu caudal

escancaro todos os meus risos e nada faz sentido tudo É

a potência de estar vivo dentro da vida

o colosso de Ser

um espírito faz-se corpo abre um terramoto

as placas reajustam-se por entre os afectos espartilhados

todos os rios anseiam pelo som do encaixe a última peça do puzzle

nós todos humanos meninos ferreiros a fundir a fonte na foz

ouvir a voz dos rios a correr simples pela natureza das veias

a sabedoria minimal dos glóbulos e das árvores purificadas

pela ternura indestrutível da beleza

sim sou assumo

e assino a via lactea

com a minha liberdade o meu próprio sangue materno

puro branco

inadvertidamente



eterno




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