o sol são imensas fadas de fogo
dizem coisas radiantes em cadeia luminosa
os meus ouvidos acendem pequenas peripécias
capazes de distinguir os gestos que fazem dentro do som e da luz
levantam os braços seguram lamparinas
digo: são visões por baixo do escalpe
permitem aceder a verdades puramente sensíveis
a dado momento o fogo intensifica-se
e o dia começa de novo
vulnerável como uma laranja descascada
as fadas dizem em coro, abençoam
planam sobre
as pessoas que dizem mal de si próprias dizem mal dos outros
as pessoas que dizem mal dos outros dizem mal de si próprias
movidas pela lei geral da capilaridade humana
os vasos comunicam as flores que cultivam
o jardim
é sempre o mesmo
jardineiro
as mesmas mãos de fogo o mesmo coração de fogo
o mesmo sopro de fogo a ligar as águas do mundo
por dentro do núcleo vivo da Terra: aleluia
as águas rebentam
pelo fogo meus irmãos
as fadas celebram
o nosso parto colectivo
a partir de agora somos povo
o mesmo povo de sempre coroado
pelo tempo novo
as pedras do deserto purificam os pés incandescentes
cantemos com alegria rasgada selvagem
meus irmãos e com candura
as nossas almas reclamam a nossa voz
mais pura